domingo, 10 de agosto de 2008

Os jardins suspensos da Babilônia


Quando o rei da Babilônia, Nabucodonossor, casou com a princesa Amitys, levou-a para viver na grande cidade do Oriente. Lá, porém, a princesa se queixou ao rei que sentia falta das montanhas de sua terra natal, a Media, situada na Ásia Menor, já que na Babilônia e em suas redondezas não havia montanhas. O rei então mandou construir, no centro da cidade, um enorme jardim, com vários níveis que se elevavam um sobre os outros. A obra maravilhou tanto aqueles que a viram que logo ela era incluída na lista das sete maravilhas do mundo antigo.
Antes de tudo, porém, é necessário dizer que os historiadores não têm certeza sobre a existência desses jardins, e muitos acham, inclusive, que tudo não passa de uma lenda, criada pelos poetas gregos, fascinados pelas histórias mágicas sobre a grande cidade do Oriente. O solo da Grécia sempre foi acidentado e pedregoso, e os raros lugares onde a terra era fértil situavam-se nas colinas ao redor das cidades gregas. Assim, os poetas gregos, inspirados pelas histórias de fartura e de arrojo arquitetônico da Babilônia, inventaram um jardim colossal, uma colina feita pela mão do homem, na qual cresciam “todos os tipos de árvores”.
Aqueles que contestam a existência dessa maravilha se baseiam no fato de que, dos textos babilônicos que chegaram até nós, nenhum faz referência a algo que possa ser identificado como um jardim suspenso. Em contrapartida, um babilônico chamado Borossus escreveu, em grego, um livro no qual há uma referência clara aos Jardins Suspensos, bem como ao fato de o rei ter feito essa obra para satisfazer o capricho de sua esposa.
Dentre os textos antigos que falam sobre os Jardins Suspensos, apenas o de Borossus é considerado como o de uma testemunha ocular. No entanto, parece haver um consenso entre todos eles de que os jardins estendiam-se sobre uma área quadrangular, com cerca de cem metros de comprimento. As extremidades erguiam-se, na forma de arquibancada, criando vários níveis; o que dava ao conjunto, segundo o relato de Diodorus Siculus, “a aparência de um teatro”. A irrigação de todo o conjunto era feita através de aquedutos internos, que levavam a água do rio Eufrates, que banhava a cidade e que passava ao lado dos jardins, até o seu nível mais alto. O enorme peso da estrutura era sustentado por inúmeras colunas, separadas entre si por aberturas em forma de arco.
Quanto à tese de que os jardins não passavam de uma fantasia, suspensa na mente dos poetas gregos, fica difícil imaginar que, das sete maravilhas do mundo antigo, seis eram reais e apenas uma falsa! Além disso, nas primeiras listas das maravilhas do mundo feitas pelos gregos, as Muralhas da Babilônia ocupavam o lugar que depois foi ocupado pelo Farol de Alexandria. E sobre a existência das famosas e gigantescas muralhas ninguém se atreve a duvidar, pois delas ainda restam fragmentos.
Porém, falsos ou verdadeiros, o fato é que os Jardins Suspensos influenciaram a arquitetura não só do mundo antigo como do mundo moderno. Um exemplo disso são os Jardins de Hafra, um importante ponto turístico de Israel: a versão moderna dos Jardins Suspensos da Babilônia.

O templo de Ártemis


A cidade de Éfeso foi uma das mais importantes da antiga Grécia. Situada a meio caminho entre Pérgamo e Halicarnasso, e banhada pelo mar Egeu, a cidade foi um importante porto do Mediterrâneo. Com o advento do cristianismo, a cidade se tornou um importante ponto de reunião para os devotos; foi para seus habitantes, inclusive, que São Paulo escreveu a famosa “Epístola aos Efésios”.
Além de famosa, a cidade era muito bonita, com construções suntuosas e um enorme anfiteatro. Desse e de muitas outras obras ainda podemos ter uma idéia da beleza olhando as ruínas que restaram da antiga cidade (foto).
Mas uma construção se destacava dentre todas as demais: o Templo erigido em homenagem à Ártemis, a padroeira da cidade e deusa grega da caça e da fertilidade. Mais tarde, ela se tornou a Diana para os romanos e muitos historiadores a consideram uma versão grega de Cíbele, a antiga deusa da fertilidade da Ásia Menor, cujo culto, no mundo greco-romano, deu origem a festas orgíacas.
O templo original foi concluído em 450 a.C. Em 21 de julho de 356 a.C, porém, o templo foi incendiado por um vândalo chamado Herostratus, que esperava com esse ato imortalizar o seu nome. Diz a lenda que a deusa Ártemis não pode socorrer o seu templo porque naquela noite ela estava presenciando o nascimento de Alexandre, o Grande, na Macedônia.
O templo foi reconstruído, maior e mais imponente. Dizem que Alexandre, ao passar por Éfeso, ofereceu-se para pagar a reconstrução do templo, sob a condição de que seu nome fosse gravado na parede. Um cidadão, muito diplomático, disse ao imperador que não ficava bem um deus fazer oferendas a outro, e Alexandre teria desistido da ousadia.
A área total de sua plataforma mais elevada era de 78m de largura por 131m de comprimento. Plínio, “o velho”, maravilhou-se com a sua “floresta de colunas”, e registrou um total de 127. Elas tinham 20m metros de altura e seus capitéis eram jônicos.
O culto à Ártemis era tão forte na cidade que, mesmo depois do Cristianismo, os efésios continuaram carentes de uma divindade feminina. Assim, durante o concílio de Éfeso, em 431, lá foi proclamada a maternidade divina de Maria, que recebeu o título de “Theotokos”, (mãe de Deus). As imagens da Nossa Senhora, depois disso, foram baseadas na imagem do rosto da deusa grega.
Nessa época, porém, o grande templo não existia mais, pois havia sido destruído pela invasão dos ostrogodos, em 262 d.C.
No século XIX, James Wood e sua esposa, em uma aventura arqueológica sem paralelo, na qual quase veio a falecer de malária, o arqueólogo inglês descobriu o local exato onde outrora existiu o grande templo.



O Zeus de Fídias


A cada quatro anos os antigos gregos se reuniam na cidade de Olímpia para celebrar as festas em homenagem a seu deus supremo: Zeus. O ponto alto do encontro eram os chamados “jogos olímpicos”, nos quais os maiores atletas do mundo grego mostravam suas habilidades nas diversas modalidades esportivas, como a corrida, o arremesso do disco ou a luta. Aos vencedores eram oferecidas coroas feitas com folhas de louro: um presente que pode parecer pequeno, mas que os atletas recebiam com muito orgulho, pois eles sabiam que, além de conquistar grande fama, teriam sua imagem imortalizada no mármore, servindo de modelos para os escultores.
A importância desses jogos, porém, não era recreativa; eles eram um ritual sagrado, para o qual, inclusive, as constantes guerras entre as cidades-estados gregas eram paralisadas, a chamada “paz sagrada”.
Os jogos eram realizados no centro da cidade, bem em frente ao templo de Zeus. No interior desse templo, encontrava-se uma das sete maravilhas do mundo antigo: a belíssima estátua de Zeus sentado em seu trono, a obra-prima de um dos maiores artistas do mundo helênico: Fídias.
A estátua em si não era muito grande: tinha doze metros de altura, sendo a menor das sete maravilhas; sua beleza, porém, era enorme. O material utilizado nela não foi o mármore ou a pedra, que eram os mais utilizados pelos escultores antigos, mas sim o marfim e o ouro, sendo Fídias o primeiro escultor a criar uma técnica capaz de produzir estátuas gigantescas com esses materiais. O artista já havia desenvolvido a técnica anteriormente, ao fazer as estátuas que adornavam a parte externa do famoso Partenon, em Atenas.
O Zeus de Fídias dominava todo o altar do templo, com a cabeça do deus quase encostando no teto do edifício. Ao lado da estátua, piras de metal fumegavam constantemente, pois na antiguidade o holocausto de pequenos animais era a forma de os homens homenagearem os seus deuses. A obra também era circundada por um pequeno muro, no qual Fídias pintou cenas da história mitológica de Zeus, como o castigo que ele impingiu a Prometeu.
A genialidade de Fídias não se limitou à estátua do deus, mas expandiu-se ao ambiente no qual ela estava. Como os templos gregos eram normalmente escuros no seu interior, Fídias fez um espelho com óleo logo à frente da estátua. Assim, quando um peregrino abria as portas da nave do templo, a luz do exterior incidia no espelho de óleo e era refletida por todo o ambiente, fazendo reluzir o ouro da estátua.
O Zeus de Fídias foi retratado segurando a figura alada de Vitória na mão direita, enquanto a esquerda empunhava o seu cetro. As sandálias do deus, assim como o seu manto e o seu trono, foram feitos inteiramente com ouro puro. Além disso, a estátua era adornada com pedras preciosas.
Em 391 d.C., a Igreja Católica convenceu o imperador Teodósio I a abolir os cultos e os ícones pagãos. A estátua de Zeus foi então levada para Constantinopla (atual Istambul, na Turquia), onde permaneceu entre uma coleção particular de estátuas. Mas em 462 d.C., ela foi totalmente destruída durante uma revolta popular na cidade.
Mesmo destruída, a obra de Fídias tornou-se imortal, confirmando a máxima de Heráclito, que dizia que os deuses eram “homens imortais”. A imagem de um deus sentado em um trono permeou toda a cultura ocidental que se seguiu. Podemos constatar isso tanto na iconoclastia cristã, como na famosa estátua de Abraham Lincoln, em Washington.
Além disso, o Zeus de Fídias continua vivo hoje no ideal dos jogos olímpicos, reeditados pelo Barão de Coupertain, em 1996. É uma pena que os homens da Idade Contemporânea tenham invertido o ideal grego dos jogos olímpicos, paralisando-os por duas vezes para celebrar não a Zeus, mas a Ares, o deus da guerra, durante as duas Guerras Mundiais (de 1914 a1918 e de 1939 a 1945).

O Mausoléu de Halicarnasso


Quando o rei Mausolo, da Caria, faleceu (353 a.C.), sua esposa e irmã, Artemísia II, ordenou que se construísse um enorme túmulo para o falecido. Durante a construção do monumento, a própria rainha faleceu, mas os artistas envolvidos na obra resolveram levar até o fim a sua obra-prima, que ficou pronta após dez anos de trabalho.
A obra era diferente de qualquer túmulo feito até então, e por sua beleza foi logo incluída na lista das sete maravilhas do mundo.
O monumento tinha três patamares, ou níveis:
O primeiro, a base – também chamada de podium – tinha vinte metros de altura, elevando-se em três degraus, que cresciam de tamanho na proporção 3:4:5. Isso foi feito para que os degraus se ajustassem ao tamanhos das estátuas que ficavam sobre eles, que também cresciam de tamanho quanto mais alto ficavam. As estátuas do primeiro e do terceiro degraus representavam batalhas famosas, já as estátuas do segundo degrau representavam pessoas ilustres da época.
Logo após a base, vinha a colunata: uma enorme área retangular cercada por 36 colunas, que mediam 12m de altura. Nos vãos entre essas colunas foram colocadas estátuas de pessoas ilustres, entre elas os membros da família real.
Acima da colunata, uma procissão de enormes leões de mármore guardava a base de uma pirâmide com vinte e quatro degraus, que media 7,2m de altura. Muitos especialistas, inclusive, atribuem essa pirâmide à uma influência egípcia, o que faz do Mausoléu uma perfeita simbiose entre as duas maiores culturas de sua época: a grega e a egípcia. Acima da pirâmide, culminado o monumento, ficava uma quadriga, com o rei Mausolo e sua mulher representados em uma escala maior do que a natural – a estátua do rei tinha 3m de altura.
A escala das estátuas, que aumentava à medida que o monumento se elevava, sugere uma preocupação dos artistas com a perspectiva do espectador. Devido a uma ilusão de ótica, um objeto parece diminuir de tamanho, à medida que o elevamos do solo. Assim, para os visitantes da magnífica obra, que veriam o casal real do chão, o rei Mausolo e sua esposa pareceriam ter o tamanho natural, e não seriam reduzidos pela altitude.
As estátuas dos leões, assim como as estátuas humanas da base, circundavam todo o monumento, o que fez do Mausoléu o maior acervo de esculturas do seu tempo. Ao contrário do que muitos imaginam hoje em dia, as estátuas do Mausoléu, assim como todas as esculturas da antiguidade grega, eram pintadas, reproduzindo fielmente aquilo que retratavam, já que o ideal de arte grega era o de imitar a natureza.
A autoria dessas estátuas, segundo as fontes antigas, são de quatro artistas, cabendo a cada um deles um lado do monumento. Assim, Scopas esculpiu as estátuas do lado leste, Bryaxis as do norte, Timoteus as do sul e Leocares as do oeste. Além disso, é creditado ao escultor Píteos o projeto arquitetônico do monumento, assim como a enorme quadriga no seu cume.
Após a sua construção, o “Túmulo ao rei Mausolo” adquiriu fama imediata, inspirando a construção de inúmeros outros túmulos da antiguidade. A palavra Mausoléu, derivada da tradução para o latim do nome do monumento: “sepulcrum Mausoleum”, virou um substantivo que designa todo túmulo de grandes proporções ou ricamente adornado.
Porém, a herança dessa obra não pode ser colocada em apenas uma palavra. A idéia de colocar homens comuns, e não deuses, em uma posição elevada, criando assim um “Parnasso humano”, nas palavras do arqueólogo John Romer, foi revolucionária. O homem passou então a ocupar um lugar que era privilégio dos deuses, inaugurando uma nova era na arte grega. Essa idéia de substituir o divino pela figura humana, inclusive, se refletiu no séc. XIV, durante a Renascença italiana. Além disso, a idéia de construir um gigantesco túmulo ricamente adornado – ao contrário das austeras pirâmides do Egito – se reflete hoje até no oriente; podemos constatar isso admirando o famoso Taj Mahal (foto) que, assim como o Mausoléu de Halicarnasso, foi construído para sepultar o membro de uma família real: a rainha Mumtaj Mahal.
O Mausoléu permaneceu de pé até o séc. XII, quando um terremoto fez ruir a colunata e a pirâmide de degraus. Em 1494, os Cavaleiros de São João resolveram refortificar o seu castelo, construído na cidade – que então já se chamava Bodrum –, em 1402. Utilizaram, para isso, muito material do Mausoléu. O Castelo de São Pedro existe até hoje, e lá ainda se pode ver muitas peças do mármore do túmulo de Mausolo (foto). O local exato do gigantesco monumento foi encontrado por arqueólogos ingleses no séc. XIX, e muitos de seus fragmentos foram levados para o Museu Britânico, entre eles a estátua que muitos acreditam ser a estátua de Mausolo (foto). Hoje, no sítio do Mausoléu restam apenas alguns pedaços de suas colunas (foto).

O Farol de Alexandria


Uma enorme torre de mármore branco, incrustada na pequena ilha de Pharos, na entrada do porto de Alexandria, foi a última das sete maravilhas do mundo a ser incluída na lista. Com cerca de cem metros de altura, o “farol” como ficou conhecido, foi construído como ponto de orientação para que os navios que viajavam pelo Mediterrâneo encontrassem com facilidade a nova cidade fundada por Alexandre o Grande.
O farol foi construído por volta de 297 a.C., embora não se saiba exatamente por quem. Uma inscrição, incrustada no mármore da base da torre e feita com letras de 50cm de altura, dizia: “Sóstratus, o Cnidiano, amigo dos soberanos, dedica essa obra para segurança dos que navegam pelos mares”. Tudo indica, porém, que o mentor da obra tenha sido o rei Ptolomeu I Sóter (305-282 a.C.), amigo de infância de Alexandre, o Grande, e que recebeu o Egito depois da partilha feita após a morte do grande imperador. Sóstratus de Cnidos provavelmente foi o arquiteto ou engenheiro do farol.
Os vários textos antigos que falam da estrutura nos permitem ter uma idéia bastante aproximada de como ela devia ser.
A obra elevava-se em três patamares: o primeiro, uma base retangular, semelhante a um prédio, com 60m de altura. O segundo, um octógono com cerca de 30m de altura, que sustentava o terceiro nível, um cilindro com 10m de altura. No alto do cilindro, havia uma colunata circular, que sustentava um teto em forma de cone, sobre o qual havia uma estátua com cerca de 5m de altura. Não se sabe exatamente que deus era representado nessa estátua; os especialistas se dividem em três nomes: Zeus, o deus supremo; Hélios, o deus do sol; e Poseidon, o deus dos mares (nessa reprodução, optei pela última alternativa).
Além dessa estátua que culminava a obra, outras quatro estátuas representando os tritões, entidades marinhas metade homem, metade peixe, situavam-se logo acima do primeiro patamar da obra – o que reforça a tese de que o deus a quem a obra foi dedicada era Poseidon.
Embora muitas das ilustrações do farol feitas em nossos dias mostre-o com uma enorme chama, iluminando a noite de Alexandria, não há nenhum registro de que o farol possuía luz antes da dominação romana do Egito. Quanto ao combustível utilizado para sustentar a chama, é quase consenso que não podia tratar-se de madeira, um elemento muito raro na desértica região do Egito; mas sim óleo, que era carregado no lombo de burros até a parte superior do farol. A luz era refletida e ampliada com espelhos. Segundo Josephus, ela podia ser vista a 54 km da costa.
O farol de Alexandria não somente foi uma das maiores construções de seu tempo, mas também o primeiro farol da história da humanidade. Depois dele, a palavra “farol” serviu para designar não só uma torre com luz própria feita para orientar a navegação, como também para designar muitas outras fontes de luz, como o farol do carro, por exemplo.
Contudo, embora majestoso, o farol não constava nas primeiras listas das sete maravilhas do mundo, feitas pelos gregos. Foi somente durante a Idade Média que um monástico europeu chamado Beda incorporou-o à lista, colocando-o no lugar das Muralhas da Babilônia.
Após a invasão do Egito pelo império árabe, o terceiro nível do farol, que já estava seriamente danificado por um terremoto, foi reconstruído como uma pequena mesquita. No início do século XII, já em ruínas, o farol foi completamente destruído por um novo terremoto. No seu lugar foi construído o Forte de Kait Bey.
Mesmo assim, o farol continua muito vivo na nossa época, servindo como modelo arquitetônico para centenas de igrejas católicas espalhadas pelo mundo. Em muitas delas, basta apenas substituirmos a cruz do pináculo por uma estátua de um deus grego para que o farol de Alexandria, à semelhança do próprio Cristo, milagrosamente ressuscite diante de nossos olhos.