domingo, 10 de agosto de 2008

O Mausoléu de Halicarnasso


Quando o rei Mausolo, da Caria, faleceu (353 a.C.), sua esposa e irmã, Artemísia II, ordenou que se construísse um enorme túmulo para o falecido. Durante a construção do monumento, a própria rainha faleceu, mas os artistas envolvidos na obra resolveram levar até o fim a sua obra-prima, que ficou pronta após dez anos de trabalho.
A obra era diferente de qualquer túmulo feito até então, e por sua beleza foi logo incluída na lista das sete maravilhas do mundo.
O monumento tinha três patamares, ou níveis:
O primeiro, a base – também chamada de podium – tinha vinte metros de altura, elevando-se em três degraus, que cresciam de tamanho na proporção 3:4:5. Isso foi feito para que os degraus se ajustassem ao tamanhos das estátuas que ficavam sobre eles, que também cresciam de tamanho quanto mais alto ficavam. As estátuas do primeiro e do terceiro degraus representavam batalhas famosas, já as estátuas do segundo degrau representavam pessoas ilustres da época.
Logo após a base, vinha a colunata: uma enorme área retangular cercada por 36 colunas, que mediam 12m de altura. Nos vãos entre essas colunas foram colocadas estátuas de pessoas ilustres, entre elas os membros da família real.
Acima da colunata, uma procissão de enormes leões de mármore guardava a base de uma pirâmide com vinte e quatro degraus, que media 7,2m de altura. Muitos especialistas, inclusive, atribuem essa pirâmide à uma influência egípcia, o que faz do Mausoléu uma perfeita simbiose entre as duas maiores culturas de sua época: a grega e a egípcia. Acima da pirâmide, culminado o monumento, ficava uma quadriga, com o rei Mausolo e sua mulher representados em uma escala maior do que a natural – a estátua do rei tinha 3m de altura.
A escala das estátuas, que aumentava à medida que o monumento se elevava, sugere uma preocupação dos artistas com a perspectiva do espectador. Devido a uma ilusão de ótica, um objeto parece diminuir de tamanho, à medida que o elevamos do solo. Assim, para os visitantes da magnífica obra, que veriam o casal real do chão, o rei Mausolo e sua esposa pareceriam ter o tamanho natural, e não seriam reduzidos pela altitude.
As estátuas dos leões, assim como as estátuas humanas da base, circundavam todo o monumento, o que fez do Mausoléu o maior acervo de esculturas do seu tempo. Ao contrário do que muitos imaginam hoje em dia, as estátuas do Mausoléu, assim como todas as esculturas da antiguidade grega, eram pintadas, reproduzindo fielmente aquilo que retratavam, já que o ideal de arte grega era o de imitar a natureza.
A autoria dessas estátuas, segundo as fontes antigas, são de quatro artistas, cabendo a cada um deles um lado do monumento. Assim, Scopas esculpiu as estátuas do lado leste, Bryaxis as do norte, Timoteus as do sul e Leocares as do oeste. Além disso, é creditado ao escultor Píteos o projeto arquitetônico do monumento, assim como a enorme quadriga no seu cume.
Após a sua construção, o “Túmulo ao rei Mausolo” adquiriu fama imediata, inspirando a construção de inúmeros outros túmulos da antiguidade. A palavra Mausoléu, derivada da tradução para o latim do nome do monumento: “sepulcrum Mausoleum”, virou um substantivo que designa todo túmulo de grandes proporções ou ricamente adornado.
Porém, a herança dessa obra não pode ser colocada em apenas uma palavra. A idéia de colocar homens comuns, e não deuses, em uma posição elevada, criando assim um “Parnasso humano”, nas palavras do arqueólogo John Romer, foi revolucionária. O homem passou então a ocupar um lugar que era privilégio dos deuses, inaugurando uma nova era na arte grega. Essa idéia de substituir o divino pela figura humana, inclusive, se refletiu no séc. XIV, durante a Renascença italiana. Além disso, a idéia de construir um gigantesco túmulo ricamente adornado – ao contrário das austeras pirâmides do Egito – se reflete hoje até no oriente; podemos constatar isso admirando o famoso Taj Mahal (foto) que, assim como o Mausoléu de Halicarnasso, foi construído para sepultar o membro de uma família real: a rainha Mumtaj Mahal.
O Mausoléu permaneceu de pé até o séc. XII, quando um terremoto fez ruir a colunata e a pirâmide de degraus. Em 1494, os Cavaleiros de São João resolveram refortificar o seu castelo, construído na cidade – que então já se chamava Bodrum –, em 1402. Utilizaram, para isso, muito material do Mausoléu. O Castelo de São Pedro existe até hoje, e lá ainda se pode ver muitas peças do mármore do túmulo de Mausolo (foto). O local exato do gigantesco monumento foi encontrado por arqueólogos ingleses no séc. XIX, e muitos de seus fragmentos foram levados para o Museu Britânico, entre eles a estátua que muitos acreditam ser a estátua de Mausolo (foto). Hoje, no sítio do Mausoléu restam apenas alguns pedaços de suas colunas (foto).

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