domingo, 10 de agosto de 2008

O Zeus de Fídias


A cada quatro anos os antigos gregos se reuniam na cidade de Olímpia para celebrar as festas em homenagem a seu deus supremo: Zeus. O ponto alto do encontro eram os chamados “jogos olímpicos”, nos quais os maiores atletas do mundo grego mostravam suas habilidades nas diversas modalidades esportivas, como a corrida, o arremesso do disco ou a luta. Aos vencedores eram oferecidas coroas feitas com folhas de louro: um presente que pode parecer pequeno, mas que os atletas recebiam com muito orgulho, pois eles sabiam que, além de conquistar grande fama, teriam sua imagem imortalizada no mármore, servindo de modelos para os escultores.
A importância desses jogos, porém, não era recreativa; eles eram um ritual sagrado, para o qual, inclusive, as constantes guerras entre as cidades-estados gregas eram paralisadas, a chamada “paz sagrada”.
Os jogos eram realizados no centro da cidade, bem em frente ao templo de Zeus. No interior desse templo, encontrava-se uma das sete maravilhas do mundo antigo: a belíssima estátua de Zeus sentado em seu trono, a obra-prima de um dos maiores artistas do mundo helênico: Fídias.
A estátua em si não era muito grande: tinha doze metros de altura, sendo a menor das sete maravilhas; sua beleza, porém, era enorme. O material utilizado nela não foi o mármore ou a pedra, que eram os mais utilizados pelos escultores antigos, mas sim o marfim e o ouro, sendo Fídias o primeiro escultor a criar uma técnica capaz de produzir estátuas gigantescas com esses materiais. O artista já havia desenvolvido a técnica anteriormente, ao fazer as estátuas que adornavam a parte externa do famoso Partenon, em Atenas.
O Zeus de Fídias dominava todo o altar do templo, com a cabeça do deus quase encostando no teto do edifício. Ao lado da estátua, piras de metal fumegavam constantemente, pois na antiguidade o holocausto de pequenos animais era a forma de os homens homenagearem os seus deuses. A obra também era circundada por um pequeno muro, no qual Fídias pintou cenas da história mitológica de Zeus, como o castigo que ele impingiu a Prometeu.
A genialidade de Fídias não se limitou à estátua do deus, mas expandiu-se ao ambiente no qual ela estava. Como os templos gregos eram normalmente escuros no seu interior, Fídias fez um espelho com óleo logo à frente da estátua. Assim, quando um peregrino abria as portas da nave do templo, a luz do exterior incidia no espelho de óleo e era refletida por todo o ambiente, fazendo reluzir o ouro da estátua.
O Zeus de Fídias foi retratado segurando a figura alada de Vitória na mão direita, enquanto a esquerda empunhava o seu cetro. As sandálias do deus, assim como o seu manto e o seu trono, foram feitos inteiramente com ouro puro. Além disso, a estátua era adornada com pedras preciosas.
Em 391 d.C., a Igreja Católica convenceu o imperador Teodósio I a abolir os cultos e os ícones pagãos. A estátua de Zeus foi então levada para Constantinopla (atual Istambul, na Turquia), onde permaneceu entre uma coleção particular de estátuas. Mas em 462 d.C., ela foi totalmente destruída durante uma revolta popular na cidade.
Mesmo destruída, a obra de Fídias tornou-se imortal, confirmando a máxima de Heráclito, que dizia que os deuses eram “homens imortais”. A imagem de um deus sentado em um trono permeou toda a cultura ocidental que se seguiu. Podemos constatar isso tanto na iconoclastia cristã, como na famosa estátua de Abraham Lincoln, em Washington.
Além disso, o Zeus de Fídias continua vivo hoje no ideal dos jogos olímpicos, reeditados pelo Barão de Coupertain, em 1996. É uma pena que os homens da Idade Contemporânea tenham invertido o ideal grego dos jogos olímpicos, paralisando-os por duas vezes para celebrar não a Zeus, mas a Ares, o deus da guerra, durante as duas Guerras Mundiais (de 1914 a1918 e de 1939 a 1945).

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